Café Beatnik

Jimmy Corrigan

Posted in Quadrinhos by cafebeatnik on abril 7, 2010

Uma das aquisições mais interessantes desses últimos tempos foi a graphic novel Jimmy Corrigan, de Chris Ware, a qual foi lançada pela Companhia das Letras – seu selo de quadrinhos, no caso. Muito comentada por conta de seu lançamento, a edição me fez criar uma certa expectativa para ler. Trabalho finalmente feito. Vamos aos comentários em tópicos:

01 – Há uma ótima articulação dos quadrinhos com a atualidade. A obra possui uma narrativa ousada, além de um diálogo propício que eu vislumbrei com apanhados teóricos de Jean Baudrillard e suas teorias de simulacro, simulação e pós-modernidade.

02 – Em um texto sobre essa perspectiva contemporânea, o filósofo Terry Eagleton teceu um parágrafo que pode fazer um paralelo com a narrativa crítica gerada: “o pós-modernismo emerge da mudança histórica ocorrida no ocidente para uma nova forma de capitalismo – para o mundo efêmero e descentralizado da tecnologia, do consumismo e da indústria cultural, no qual as indústrias de serviços, finanças e informação triunfam sobre uma produção tradicional, e a política clássica de classes cede terreno a uma série difusa de políticas de identidade”.

 03 – Jimmy Corrigan é um diálogo sobre a alienação, onde a nulificação das identidades é presente, em prol de uma sociedade de imagem e simulacro. Pertinente como ponto de partida para realidades dormentes.

Crise Final

Posted in Quadrinhos by cafebeatnik on fevereiro 5, 2010

Post para relatar, brevemente, minha interlocução com o mais recente arco narrativo do Universo DC, desenvolvido por Grant MorrissonA Crise Final.

A trama, a priori, envolve a aparição do vilão Libra, arauto de Darkseid, o qual desencadeia eventos como a disseminação da equação anti-vida. Através desta metodologia, Libra organiza toda a galeria de inimigos dos super heróis da editora para o embate.

A arte de Doug Mahnke e Christian Alamy tem sua contrapartida épica. As capas, por sinal, foram desenhadas pelos mesmos em parceria com David Baron.

A articulação narrativa de Morrisson já prepara terreno para o próximo evento-chave da editora, A Noite mais Densa, já com autoria de Geoff Johns.

O arco de Morrisson A Crise Final também se conecta, diretamente, com a saga Batman R.I.P., também de sua autoria, na qual o personagem título é perseguido por uma sensação de ansiedade constante, com certa suspeita inominável.

A arte de Tony S. Daniel tem uma distribuição de quadros interessante, junto de Sandu Florea, Lee Garbell e Trevor Scott. Considero o trabalho de cores de Guy Major e Alex Sinclair muito eficaz.

Alex Ross fez a arte das capas.

Maus

Posted in Quadrinhos by cafebeatnik on novembro 27, 2009

Mais um post sobre graphic novels que chegaram ao mercado brasileiro, muitas por conta da iniciativa de publicação da Companhia das Letras. A escolhida agora é Maus, do americano e filho de poloneses Art Spielgeman.

A narrativa foi publicada, originalmente, na revista americana  underground Raw entre 1980 e 1991, porém, tempos depois, Art Spiegelman, sócio-fundador e editor da publicação, compilou um primeiro volume em 1986, com o título Maus – A história de um sobrevivente. Cinco anos depois, veio a segunda compilação, Maus II – E aqui meus problemas começaram. Em 1992 o autor ganhou o prêmio Pulitzer, um dos mais conceituados do meio jornalístico e literário, e nunca antes dado a uma HQ.

No Brasil, sua re-publicação se deu em 2005 pela já citada Companhia das Letras, mas já havia ocorrido publicação em versões separadas pela Ed. Brasiliense: em 1986, Maus I, e em 1995, Maus II. O formato da Companhia, por outro lado, de formato bem acabado  e com as duas compilações num tomo só, pode ser considerada de preço acessível. A editora, atualmente, possui um selo voltado para narrativas sequenciais adultas, intitulado Quadrinhos na Cia.

A narrativa toda se baseia nos relatos do pai do autor acerca de sua experiência como um judeu e perseguido pelo regime nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Com detalhes dolorosos sobre Auschwitz tratados de maneira realista, crua e reveladora, fui bastante tocado ao término da leitura.

Um ponto interessante é a metáfora que usa de elementos antropomórficos para estabelecer as relações étnicas da época: os judeus eram os ratos; os nazistas, os gatos; os poloneses, os porcos; e os americanos, os cachorros. A metalinguagem narrativa para nos situar na relação entre o autor e seu pai, o qual vai relatando os acontecimentos para o filho, dá a sensação de que o quadrinho está sendo construído à medida que se lê.

A arte suja e sem muitos floreios também se mostra como outro ponto de destaque, pois além de manter o estilo editorial da revista Raw, serve como contraponto para lidar com a dificuldade de tratar das memórias da Segunda Guerra.

Considerado como um dos títulos mais emblemáticos para uma História dos Quadrinhos, destaque este ao lado de Sandman, WatchmenBatman – O Cavaleiro das Trevas e Spirit, Maus já virou leitura obrigatória em cursos de Arte na Europa e EUA.

Umbigo Sem Fundo

Posted in Quadrinhos by cafebeatnik on novembro 27, 2009

Umbigo sem Fundo, do autor americano Dash Shaw, foi uma das graphic novels mais debatidas em 2008 nos EUA. A Companhia das Letras, através de seu novo selo, Quadrinhos na Cia., cujas publicações privilegiam o universo das narrativas sequenciais, resolveu comprar os direitos de distribuição e lançou agora, em 2009, esta obra no mercado brasileiro, de maneira a estrear sua campanha editorial deste ano.

Shaw já havia trabalhado com publicações independentes e pela internet, além do álbum The Mother’s Mouth. Todavia, foi através de Umbigo sem Fundo (Bottomless Belly Button) que o alcance aumentou. A narrativa foi indicada como uma das melhores publicações americanas de 2008 pela imprensa especializada. Em mais de 700 páginas, conhecemos a família Loony, composta pelo pai, a mãe, seus três filhos, além dos netos.

Após 40 anos de casados, os personagens da família resolvem se divorciar e, para tanto, convidam seus filhos já crescidos para uma reunião na casa de praia para um acerto de contas, um bate papo. Num estilo narrativo lírico, o quadrinho vai compondo um cenário de personagens densos.

Em determinados momentos eu pensava no andamento do filme A Lula e a Baleia, do diretor Noah Baumbach. A sutileza da narrativa, sobre um tema difícil, prende o leitor. A arte é simples, minimalista e dinâmica.

Exit Wounds, Persépolis, Valsa com Bashir

Posted in Cinema, Quadrinhos by cafebeatnik on outubro 26, 2009

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Uma descoberta fascinante que tive foi com a leitura de certas graphic novels, algumas delas originárias de Israel e do Irã. Dois títulos, mais especificamente, foram Exit Wounds (importado), de Rutu Modan, e Persépolis, da já conhecida iraniana Marjane Satrapi. Cada qual, à sua maneira, narra, sob um viés da memória, aspectos dos conflitos político-religiosos da região.

A arte das narrativas, por sinal, é um primeiro destaque. Exit Wounds é mais sutil, colorida, com traços delicados. Em seu enredo, um menino tenta ajudar a ex-namorada de seu pai desaparecido a encontrá-lo. Acredita-se que o pai do garoto tenha se envolvido num ataque à bomba num bairro de Tel Aviv. Com esta premissa, ambos passam a vasculhar os seus passados e os do país.

Persépolis, a qual já foi adaptada para o cinema e indicada para o Oscar de Animação, traz arte expressiva em p&b. Fala de uma garota de pais e educação liberais, crescendo no período de fortalecimento do fundamentalismo do Irã. O filme possui pontos diferentes em relação a graphic novel, portanto considero que são duas obras que se completam. Cada uma das duas mídias tem determinados trechos particulares, além do arco geral. O tom  autobiográfico faz deste título outra experiência ancorada na memória.

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Lembro, inclusive, de um filme o qual virou narrativa sequencial posteriormente, Valsa com Bashir (2008), de Ari Folman, pois traz aproximável abordagem política-pop-lírica. Nesta animação israelense, um personagem desenvolve uma amnésia sobre determinado período de sua vida, o período da guerra envolvendo o Líbano e Israel. Em alguma medida semelhante, vai atrás de suas memórias para eclodir suas dores e consciência.

É super apropriado assistir Balsa com Bashir e colocá-lo em perspectiva com as obras de Modan e Satrapi. São reconstruções narrativas, arte sequencial e animação, cujo pano de fundo apresenta outras perspectivas memoriais sobre os traumas e as barbáries que nos cercam.

Dimensão DC Lanterna Verde n.° 09

Posted in Quadrinhos by cafebeatnik on junho 13, 2009

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Dimensão DC Lanterna Verde traz os arcos A Tropa dos Lanternas Alfa e Gladiador Dourado, escritos por Geoff  Johns. O último número lançado é o n.° 09, mas os primeiros da série se encontram fácil em comic shops.

O arco principal remete ao final do conflito envolvendo a Guerra dos Anéis e a Tropa Sinestro, sendo que esta última acaba matando diversos lanternas. Os guardiões e chefões de OA (anões azuis que determinam o equilíbrio do universo) resolvem pôr em prática novas leis para as personagens esmeraldas, como o uso de força mortal no combate inimigo e a criação da Tropa dos Lanternas Alfa, espécie de corregedoria dentro do sistema dos super heróis. A premissa amplia o olhar sobre o que já se viu a respeito de Lanterna Verde, com vias para a chamada Noite Mais Densa.

Neste número específico, após a condenação da Lanterna Laira por ter executado um membro da Tropa Sinestro e posterior adesão desta à Tropa dos Lanternas Vermelhas, a equipe de OA, moralmente abalada, tem de procurar, a mando dos guardiões, outros portadores de anéis amarelos e seguidores de Sinestro.

Biblioteca Histórica DC Mulher Maravilha

Posted in Quadrinhos by cafebeatnik on maio 31, 2009

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Este trabalho roteirizado e desenhado por George Pérez, saga de reconstrução do universo da Mulher Maravilha na década de 1980 após a Crise nas Infinitas Terras, merece atenção.

George Pérez foi o responsável pelo aparecimento dos Novos Titãs, série também foi lançada pela Biblioteca Histórica DC. De todo modo, considero este trabalho seu o meu preferido.

The Matrix 10 Anos

Posted in Cinema, Quadrinhos by cafebeatnik on maio 24, 2009

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O primeiro filme do universo Matrix (1999) fez aniversário de 10 anos. Dirigido por Lana e Lilly Wachowski, apresentou uma combinação de cinema noir, ficção científica filosófica e visão cristã-revisionista do mito do salvador. Reconheço o impacto da saga em certos gostos particulares.

Elementos cyber-punk, filosofia zen, animes japoneses, bullet time e trilha sonora industrial me tomaram, bem recordo. O site whatisthematrix.com e as animações de Animatrix (2003) também foram impactantes, isso em um momento em que a Internet dava passos para uma maior integração no mercado consumidor privado.

Matrix Reloaded (2003) ainda causou recepção favorável, principalmente por conta de elementos como o Arquiteto, os gêmeos, determinadas sequências de ação. Não semelhante, Matrix Revolutions (2003) recebeu críticas mornas – e penso que a mudança de uma obra originalmente de roteiro para outra, de ação ininterrupta, foi uma das causas.

Fiquei animado, por sinal, com o lançamento dos dois volumes de quadrinhos que acompanharam a pré-produção dos filmes. Alguns trabalhos são excelentes. O primeiro volume tem histórias assinadas por Neil Gaiman, Dave Gibbons, Paul Chadwick e Bill Sienkiewicz.

Coringa, de Brian Azzarello

Posted in Quadrinhos by cafebeatnik on maio 12, 2009

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Há muito que ainda me choca. Depois de ler Coringa, de Brian Azzarello, fui tomado por esta exata sensação. Em seu novo arco apresentado, a personagem recebe tratamento de alta voltagem. Este deve ser o mais violento dos títulos recentes que li, fazendo jus à condição do vilão.

Asilo Arkhan, de Grant Morrisson já tinha mostrado um coringa muito além do personagem caricatural criado por Bob Kane. A Piada Mortal, de Alan Moore, trouxe elementos psicológicos bem interessantes, expandindo o drama das personagens/ vítimas em torno do vilão. O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller, desenhou um novo grande vilão, psicodélico, em uma grande narrativa. Todavia, admito, este título de Azzarello mostra o personagem aterrorizante.

A arte de Lee Bermejo é um delírio à parte. O melhor de tudo isso? Acessível, em uma edição de luxo e com capa dura.

Academia Umbrella

Posted in Quadrinhos by cafebeatnik on abril 19, 2009

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Comentaram bastante e fui atrás deste título para tentar entendê-lo ambém. Escrito pelo vocalista do My Chemical Romance, Gerard Way, e desenhado por brasileiro Gabriel Bá, irmão de outro famoso ilustrador, Fábio Moon, a narrativa parte da premissa de uma academia de super heróis, com 07 integrantes, de outros 43 seres também peculiares e nascidos num mesmo dia: O Garoto Espacial, A Fofoca, Kraken, O Sem Nome, O Espírita, O Horror e A Violino Branco. Estes 07 personagens se reunem após o funeral de seu mentor.

Há excesso pelo caminho do roteiro. Algumas idéias são interessantes, mas tive dificuldades marcantes. Lidar com clichês de maneira criativa pode ser o novo coringa. Quando uma orquestra gótica (lembremos do vocalista) contrata a irmã mais introvertidda da Academia Umbrella e a transforma numa violinista mortal, cujo violino tem o poder de destruir, espécie de Fênix musicista, percebo mensagem legal sobre a empatia para com a alteridade.

A arte de Gabriel Bá é um dos destaques mais claros. Ele levou o Eisner por Sugarshock e Daytripper. Sua premissa é mais estilizada. Mike Mignola e Frank Miller podem ter sido inspiradores. As capas de James Jean são meu maior ponto de interesse. Ele já contribuiu com grande parte das capas da série Fábulas, escrita por Bill Willingham – atualmente um artista brasileiro, João Ruas, está à frente.