Café Beatnik

Mashup

Posted in Filosofia, Literatura, Música by cafebeatnik on novembro 24, 2022

Escrever – que se trate de Ficções ou de crônicas, de poemas ou de ensaios documentais – consistiria então, sob esse ângulo, em formar o atlas ou a cartografia dépaysante, estranha, de nossas experiências incomensuráveis (o que é muito diferente de fazer a narrativa ou o catálogo de nossas experiências mensuráveis) (DIDI-HUBERMAN, Georges. Atlas ou o Gaio Saber Inquieto. O Olho da História, III. Belo Horizonte: UFMG, 2018: 84).

ola ray

John Lennon se tornou uma superestrela no Colégio São Paulo lá pelos meados da década de 1990. Para surpresa de muitas e de muitos, ele não só não possuía traços, como não conhecia canções, nem demonstrava interesse pela carreira dos Beatles. Seu êxito para com toda a juventude daquele colégio de freiras veio mesmo em uma outra via, Lennon personificava Michael Jackson sem excessos.

Eu bem lembro de quando escutava Billie Jean e logo imaginava os passos e a naturalidade de meu amigo. Nós até pedíamos para que ele fizesse o famoso Moonwalker enquanto tocávamos em nosso mini system Jealous Guy. Porém, John Lennon se mostrava irredutível, não aceitava tamanhas traições. Ele me contava que os seus pais ficavam igualmente furiosos com este posicionamento seu, pois nem um refrão da banda britânica saía de seus lábios.

Por conta desta consciência sua, seu investimento nas coreografias de Jackson se manteve sem trégua. Em todo horário de recreio, lá eu via John Lennon dançando soul, black music e pop norte-americanos. E ele vinha todo paramentado: jaqueta de couro vermelha, calças vermelhas, um par de mocassins pretos e as habituais meias brancas.

E a plateia? Ora, um grupo numeroso de adolescentes homens e mulheres estáticas e com olhares fixos na precisão dos seus movimentos. Ao término de cada intervalo, um estrondo de palmas, misto de beatlemania ao som de Thriller.

Quando revi John Lennon, descobri que aprendera a tocar violão e, então, fazia apresentações acústicas de Bob Dylan em um bar na Cidade Velha de Belém. Segundo seu relato, não cedera aos desejos dos pais, ainda, de fazer covers do artista inspiração para seu nome. Talvez, depois dos 40 anos, mudasse de ideia. Chegaria no seu prazo, acreditava, a oportunidade para viver os anos que não foram vividos por seu xará (Mashup, JF).

The End is the Beginning is the End

Posted in Artes Visuais, Música, Quarentena by cafebeatnik on setembro 18, 2021

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>> Two Ouroboros… Image from the burial chamber of Tutankhamun’s tomb. The Ouroboros is an ancient symbol depicting a serpent or dragon eating it’s own tail. It is the oldest allegorical symbol in alchemy which represented the connection of the world of earth and the world of heaven. Now in the Grand Egyptian Museum in Cairo.

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Este espaço teve seu início em 18/11/2008, contexto aqui retomado e associado a partir de outras descontinuidades (o próprio post primeiro teve edição posterior com acréscimo do vídeo). São 13 anos de escritas espontâneas, nem sempre saudáveis, porém revisadas e em interlocução com ideias e com imagens.

A simbologia de Ouroboros, também legível como a dança sagrada da morte e da reconstrução, está presente não somente neste fragmento, mas em outras escritas – minha tese de doutorado, em publicações acadêmicas, um Easter egg particular, por assim dizer. É, portanto, anacronia com distintas densidades.

Retomar esta figura imemorial neste momento pretende acessar outra face da renovação, espécie de acordo não com perspectivas iluministas, fanáticas ou empreendedoras.  Aqui reside, não obstante, a percepção de que renovar-se convoca contradições as quais exigem outra ética de negociação.

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Escrever bem custa. Por escrever bem entendo dizer com a máxima simplicidade as coisas essenciais. Nem sempre se consegue. […] Alguns escritores o encontram logo, outros demoram muito, outros nunca o encontram (RODOREDA, Mercè. Espelho Partido. São Paulo: Planeta, 2021: 294).

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Escavar é como escrever: rasgar a terra e, letra a letra, ascender a um sepultado céu (COUTO, Mia. O Mapeador de Ausências. São Paulo: Companhia das Letras, 2021: 44).

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As coisas voltam ao princípio de que saíram, conforme está prescrito; pois que há entre elas reparação e insatisfação de sua injustiça recíproca, segundo a ordem dos tempos (ANAXIMANDRO apud NUNES, Benedito. Introdução. In: PLATÃO. A República. Belém: UFPA, 2016: 55).

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560º dia de um já parcial isolamento social.

Portrait of a Lady on Fire

Posted in Cinema, Música by cafebeatnik on março 1, 2020

 

And all our yesterdays have lighted fools the way to dusty death? Macbeth.

Posted in Música by cafebeatnik on março 2, 2013

Posted in Literatura, Música by cafebeatnik on junho 20, 2012

Weightless falls
Honeysuckle
Strangers – strange this
Lights from pages
Paper thin thing

Protected by the naked eye
Pearly sunrise

Nearly worn
Kneeling like a supplicant
Darkened skin
Afraid to see
Radiate
Open lips
Keep smiling for me
Darkened skin
Afraid to see
Radiate
Open lips
Keep smiling for me

Weightless cool
Honeysuckle
Fair skin – freckles
Uncut teeth
Tranquill eyes
Bite my lips – bite my lips
Under your feet

05 Itens

Posted in Artes Visuais, Cinema, Literatura, Música, Quadrinhos by cafebeatnik on outubro 1, 2011

Eu sei que ando escrevendo pouco por aqui. Até tive algumas idéias de compartilhar poesia americana, a qual muito me agrada, com algumas leituras minhas; possibilidades de criar reflexões maiores (e é claro que elas serão colocadas em sua língua original). Mas isso vem depois.

Para manter a mania de listas, nada mais justo do que retomar esse “gap” com mais um post com meus reconhecíveis padrões numéricos; grupos de obras que podem virar rotas para momentos específicos de minhas investigações.

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05 Filmes: eu, ultimamente, tenho me interessado por filmes que trazem personagens vagantes, à deriva, perdidos em pensamentos, tentando achar uma faísca de vida.

01 – L’avventura, de Michelangelo Antonioni
02 – La Notte Brava, de Mario Bolognini
03 – Vaghe Stelle Dell’orsa, de Luchino Visconti
04 – Éte Violent, de Valério Zurlini
05 – Ascensor para o Cadafalso, de Louis Malle

05 Livros: a literatura americana e a latina me causam um grande fascínio. Sejam beatniks, líricos, imersos em fluxos de pensamentos ou em interlocução filosófica, a leitura de alguns desses livros me trazem experiências transformadoras.

01 – O Apanhador no Campo de Centeios, de Salinger
02 – On the Road, de Jack Kerouac
03 – Borges Oral, de Jorge Luis Borges
04 – Charles Baudelaire, um Lírico no Auge do Capitalismo, de Walter Benjamin
05 – O Jogo da Amarelinha, de Julio Cortázar

05 Obras de Arte: tenho buscado imagens que me levam à experiência do cinema ou da fotografia.

01 – A Bigger Splash, de David Hockney
02 – Nighthawks, de Edward Hopper
03 – S/ título, de Rodrigo Freitas (Grande Prêmio Arte Pará 2010)
04 – Light Red Over Black, de Mark Rothko
05 – Anywhere is my Land, de Antonio Dias

05 Álbuns: o mote aqui é a contemplação abstrata. Jazz sempre foi meu ponto chave, mas experiências industriais também possuem um destaque muito próximo.

01 – Kind of Blue, Miles Davis
02 – Vagamente, Wanda Sá
03 – The Fragile, Nine Inch Nails
04 – Pocket Symphony, Air
05 – A Love Supreme, John Coltrane

Born Villain

Posted in Música by cafebeatnik on setembro 6, 2011

Bem, eu tenho de afirmar que ainda acho o Marilyn Manson um dos artistas americanos mais interessantes (ao lado do Trent Reznor, líder do Nine Inch Nails). E como acabou de sair um vídeo do artista, prévia do seu novo álbum, nada mais oportuno do que publicá-lo por aqui.

Esse vídeo foi gravado pelo Shia LaBeouf (algo estranho, por sinal) como parte do processo criativo de um filme que irá mostrar a gravação do novo álbum do Marilyn. Born Villain pode não ser somente um clip, mas a música me trouxe uma lembrança sonora do Manson na época do Portrait of an American Family (há uma citação clara à A Montanha Sagrada, do Alejandro Jodorowsky).

O vídeo tem cenas fortes, mas acaba que faz parte do trabalho do artista em lidar com as ideologias religiosas e americanas.

Rapeture

Posted in Música by cafebeatnik on agosto 17, 2011

Rapeture:

 

Christianity

Manufactures

Yesterdays

Killers

 

Brave Now World. Don’t ever believe what you read, especially if you are illiterate.  Art will be the burning churches, burning beds, burning witches, burning bridges, burning Cadillacs, burning forests, burning flags, and the burning human remains that are the evidence of the burned books, filled with stories of our razor and rope burns.

But we will not be the ashes. We will not be cremated, we will cauterize our wounds.  We never wanted our wings anyway.

We are more than the flightless creatures, that are always expected to rise from the bonfire. These are barbecues for trembling, idiot arsons who pretend to be America’s Vatican in whatever ‘ism’ is easiest to swallow.  After the horrid blowing jobs, they expect us to fight against each other to obtain the security of willing slaves.

 We do not walk among them.  I am among no one.

Marilyn Manson

Claudine Longet

Posted in Cinema, Música by cafebeatnik on maio 21, 2011

Para uma das minhas musas: Claudine Longet, cantora e atriz francesa nascida em 1942. Ao lado de Wanda Sá, Nina Simone, Billie Holiday, Ella Fitzgerald e Anita O’day, Longet compõe meu panteão atual de cantoras.

Sua voz delicada, a qual interpreta muita bossa, jazz, chansons francaises etc., me chamou a atenção pela primeira vez no filme The Party (1968), de Blake Edwards. Longet contracena formidavelmente com Peter Sellers (uma lembrança de infância que até hoje permanece intacta). The Party, por sinal, ainda é uma das minhas comédias favoritas. E é muito bonitinho quando ela canta Nothing to Loose, uma das canções tema.

Longet também ganhou fama por ter sido acusada de assassinato do esquiador e, então, namorado Spider Sabich, em 1977. Segundo a cantora, a arma disparou acidentalmente. Também foi casada com o cantor Andy Williams.

Sua discografia pode ser achada facilmente: Claudine (1967, A&M); The Look of Love (1967, A&M); Love Is Blue (1968, A&M); Colours (1969, A&M); Run Wild, Run Free (1970, A&M); We’ve Only Just Begun (1971, Barnaby Records); e Let’s Spend the Night Together (1972, Barnaby Records). Love is Blue e Colours são meus prediletos.

Antony and the Johnsons – I’m a Bird Now

Posted in Música by cafebeatnik on março 9, 2011

I’m a Bird Now, de Antony and the Johnsons, é uma experiência necessária. Continuo a pensar em uma sensação de vulnerabilidade e esperança cada vez que o escuto. Ainda que a voz de Antony Hegarty (vocalista) lembre muito a da Nina Simone, suas letras e interpretação me tomam por completo.

Considero bem ousada a predisposição de se desnudar tão inteiramente nas letras e se colocar em um patamar de identidade de gênero indeterminada. Em certos pontos do album, o vocalista coloca em questão sua masculinidade, antecipando uma provável transição.

A capa traz a Candy Darling, mulher trans participante do universo de Andy Warhol, em seu leito de morte. Trágico e profundo.

Track list:

1 – Hope There’s Someone
2 – My Lady Story
3 – For Today I Am a Boy
4 – Man Is the Baby
5 – You Are My Sister (with Boy George)
6 – What Can I Do? (with Rufus Wainwright)
7 – Fistful of Love (with Lou Reed)
8 – Spiralling (with Devendra Banhart)
9 – Free at Last
10 – Bird Gerhl

Este álbum me traz muitas lembranças. Gosto de entendê-lo como acompanhante da minha memória, percepção de tempos juvenis.